Economia de oferta

Em Ciências Sociais, economia de oferta, economia do dom, economia da doação, economia da dádiva ou ainda cultura da dádiva é uma forma de organização social na qual os membros fazem doações de bens e serviços valiosos, uns aos outros, sem que haja, formal ou explicitamente, expectativa de reciprocidade imediata ou futura, como no escambo ou num mercado. Todavia, a reciprocidade existe, não necessariamente envolvendo as mesmas pessoas, mas como uma corrente contínua de doações.[1]

A economia de oferta é uma forma econômica baseada sobre o valor de uso dos objetos ou ações. Contrapõe-se portanto à economia de mercado, que se baseia no valor de troca de bens e serviços. A doação é na realidade uma troca recíproca com algumas características definidas por convenções e não por regras escritas: a obrigação de dar, a obrigação de receber, a obrigação de restituir mais do que se recebe.

A economia de oferta caracteriza as chamadas economias primitivas. Autosuficientes, elas podem realizar a troca do excedente produzido pelos poucos bens que não conseguem produzir.

Um típico exemplo de economia de oferta é a prática do Potlatch dos indígenas americanos, como a economia dos iroqueses ou da Kula, a cerimônia dos habitantes das ilhas Trobriand.

O antropólogo Marshall Sahlins escreve que as economias da Idade da Pedra eram - por sua natureza de economias de oferta - economias de abundância, e não de escassez, ao contrário do pressuposto tipicamente moderno acerca da sua pobreza objectiva.[2]

Lewis Hyde localiza a origem das economias de oferta na partilha de comida. O Potlatch, ritual indígena frequentemente citado como um dos modelos da economia de oferta, também se originou como um “grande banquete”. Hyde argumenta que isto levou à formação da noção largamente difundida de que uma doação deva ser algo perecível.[3]

Em muitas sociedades proíbe-se a venda de doações ou o seu uso como bem de capital. O antropólogo Wendy James escreve que, entre os Uduk do nordeste africano, qualquer oferenda que cruze as fronteiras da tribo tem que ser consumida, e não "investida". Por exemplo, um animal doado tem que ser comido e não destinado à procriação.

No entanto, este "perecimento" da oferenda pode não significar o seu consumo, mas sim a passagem da dádiva para frente, para os outros. Há sociedades em que se trata de fazer outra doação, quer directamente ao doador, em retribuição, quer a um terceiro. Ficar com a oferenda e não dar outra em troca é reprovável. “Em lendas populares”, nota Hyde, “a pessoa que tenta parar uma corrente de doações geralmente morre.”[4]

Economias de oferta podem eventualmente coexistir, como subgrupos, com as economias planificadas, com as economias de mercado ou com as economias de escambo. Há diferentes explicações para a existência dessas organizações: altruísmo, investimento, segurança, aquisição de prestígio e oportunidade e reforço de relações sociais, entre outras.

Na economia de mercado, uma forma que se aproxima da economia de oferta se encontra na economia de comunhão,[5] idealizada por Chiara Lubich, no âmbito das empresas ligadas ao Movimento dos Focolares, e que prevê a destinação de um terço dos resultados à consolidação da própria empresa, um terço à ação do movimento focolar no mundo, e um terço às ações humanitárias.

  1. Cheal, David J (1988). «1». The Gift Economy. New York: Routledge. pp. 1–19. ISBN 0415006414. Consultado em 18 de junho de 2009 
  2. Marshall Sahlins cited at Hyde, op. cit., 22.
  3. Lewis Hyde: The Gift: Imagination and the Erotic Life of Property, 1983 (ISBN 0394715195), especialmente a parte I, "A Theory of Gifts", parte da qual foi originalmente publicada como "The Gift Must Always Move" na Co-Evolution Quarterly No. 35, Fall 1982.
  4. Hyde, op. cit., 5.
  5. Economia de comunhão

© MMXXIII Rich X Search. We shall prevail. All rights reserved. Rich X Search