Escultura do Brasil

Aleijadinho: Detalhe do Cristo carregando a cruz, início do século XIX, parte de um grande grupo no Santuário do Bom Jesus de Matosinhos.
Bruno Giorgi: Meteoro, 1967-1968. Palácio do Itamaraty, Brasília.

A escultura no Brasil acompanhou as correntes estéticas que animaram o desenvolvimento desta arte em outros países do ocidente, especialmente os europeus, de onde vieram as principais influências que fecundaram o solo artístico brasileiro. Ao longo dos últimos 500 anos de sua história, o Brasil testemunhou florescimentos particularmente ricos da escultura nos períodos Barroco, com um estilo geral unificado, e a partir do Modernismo, quando predomina a diversidade.[1]

A arte da escultura se firmou no país primeiro pela força da religião, manifestando-se quase sempre no terreno da estatuária devocional, sendo parte importante no culto Católico. Depois de um início naturalmente tímido e amador, ao longo dos difíceis anos de conquista e povoamento do território pelos portugueses, uma época de lutas sangrentas e asperezas de todas as ordens, quando o Brasil iniciou uma fase de consolidação socioeconômica e relativo avanço civilizatório, entre fins do século XVII e o início do século XVIII, a escultura brasileira viria a ganhar inúmeros adeptos, incluindo muitos mestres altamente qualificados, expressando-se em um estilo Barroco, então a corrente dominante na arte europeia, incluindo na lusa, sempre a grande referência. Paralelamente, desenvolveu-se com grande riqueza a escultura aplicada, na forma do entalhe decorativo em estruturas arquitetônicas, como a talha dourada das igrejas e os adornos em relevo em fontes públicas e fachadas, ou como elemento integrante de mobiliário e outros objetos utilitários.

Este ciclo perdurou com crescente solidez estética e técnica e abundância produtiva até o início do século XIX, sempre baseado num sistema de produção corporativo, onde o anonimato e o trabalho coletivo e semi-artesanal eram a regra. Este quadro viria a mudar acompanhando uma série de mudanças sociais, administrativas e culturais na nação em vias de formação, mas ainda uma colônia. Dois marcos foram fundamentais neste processo de transição: a transferência da corte portuguesa para o Brasil, fugindo de Napoleão, situação que acabaria levando o Brasil à independência de Portugal, e a atuação da Missão Artística Francesa, que sintetizou a corrente neoclássica, a grande voga cultural na Europa neste período, e introduziu a metodologia acadêmica, o mais gabaritado padrão de ensino sistematizado e de nível superior praticado no Velho Mundo, ao organizar a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios. O impacto entre dois universos tão distintos foi trabalhoso, gerou muitas resistências, disputas e mesmo prejudicou a expansão da arte escultórica no país por quase toda a primeira metade do século XIX.

Na maturidade de Dom Pedro II a antiga Escola Real, ora Academia Imperial de Belas Artes, passou a centralizar todos os avanços artísticos de um país que ansiava pela modernização e queria ter uma arte que o representasse dignamente no concerto das nações progressistas e liberais. Consolidava-se o sistema acadêmico, baseado na imitação dos mestres consagrados, e se iam incorporando novidades estéticas, como o Romantismo e o Realismo, ao estilo neoclássico dominante, gerando uma arte eclética. No entanto, a escultura sempre ficou em segundo plano, sendo ofuscada pela pintura, a "grande arte" da época, e por isso deu relativamente poucos frutos de maior qualidade. No fim do século XIX, sob a influência de novas ideias, novas tecnologias e novos hábitos de vida, a escultura nacional se veria revigorada, ampliando-se o número de praticantes e as aplicações da arte. Mas, ao mesmo tempo, uma profunda crise de valores agitava a cultura de todo o ocidente.

Surgia o Modernismo, uma contestação maciça do cânone acadêmico e de tudo que significasse autoridade e tradição, em nome da liberdade de pesquisa e da individualidade criativa. Desde então o panorama se pulverizou em uma enorme quantidade de tendências estéticas, absorveram-se, com marcada veia experimental, materiais e procedimentos jamais cogitados por escultores acadêmicos, perderam-se os limites nítidos entre as categorias artísticas, o próprio conceito de escultura, antigamente baseado no entalhe e na modelagem, foi largamente ampliado para abranger todos os aspectos relacionados à tridimensionalidade, à espacialidade e à temporalidade, elaborou-se todo um novo discurso teórico e um novo enquadramento sócio-político-econômico, e pluralidade se tornou a palavra de ordem dos contemporâneos, com uma produção que vem ganhando crescente reconhecimento internacional.

  1. Klintowitz, Jacob. O Ofício da Arte: A Escultura. SESC, 1988. p. 43

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