Racismo no Brasil

O jantar. Passatempos depois do jantar, uma litografia de 1839 que evidencia a grande divisão entre senhor e servo, é obra do artista francês Jean-Baptiste Debret (1768-1848), que passou 15 anos no Brasil captando o cotidiano de uma sociedade construída sobre a escravidão
Uma família de brasileiros brancos e suas escravas domésticas, Império do Brasil, c 1860
Morador de rua negro em Belo Horizonte

O racismo no Brasil tem sido um grande problema desde a era colonial e escravocrata. Uma pesquisa publicada em 2011 indica que 63,7% dos brasileiros considera que a raça interfere na qualidade de vida dos cidadãos. Para a maioria dos 15 mil entrevistados, a diferença entre a vida dos brancos e de não brancos é evidente no trabalho (71%), em questões relacionadas à justiça e à polícia (68,3%) e em relações sociais (65%).[1] O termo apartheid social tem sido utilizado para descrever diversos aspectos da desigualdade econômica, entre outros no Brasil, traçando um paralelo com a separação de brancos e negros na sociedade sul-africana, sob o regime do apartheid.[2]

De acordo com dados da Pesquisa Mensal do Emprego de 2015, os trabalhadores negros ganharam, em média, 59,2% do rendimento que os brancos ganham, o que também pode ser explicado pela diferença de educação entre esses dois grupos.[3] Além disso, de acordo com um estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o percentual de negros assassinados no país é 132% maior que o de brancos.[4] Apesar de comporem metade da população brasileira, os negros e pardos elegeram pouco mais do que 24% dos 513 representantes escolhidos nas eleições parlamentares no Brasil em 2018.[5]

Dentre aqueles que ganham menos de um salário mínimo, 63% são negros/pardos e 34% são brancos. Dos brasileiros mais ricos, 11% são negros/pardos e 85% são brancos. Em uma pesquisa realizada em 2000, 93% dos entrevistados reconheceram que existe preconceito racial no Brasil, mas 87% dos entrevistados afirmaram que mesmo assim nunca sentiram tal discriminação. Isto indica que os brasileiros reconhecem que há desigualdade racial, mas que o preconceito não é uma questão atual, mas algo remanescente da escravidão, apesar da ordem institucional e estrutural também serem partícipes nesta questão.[6] De acordo com Ivanir dos Santos (ex-especialista do Ministério da Justiça para assuntos raciais), "há uma hierarquia de cor da pele onde os negros parecem saber seu lugar."[7] Para a advogada Margarida Pressburger, membro do Subcomitê de Prevenção da Tortura da Organização das Nações Unidas (ONU), o Brasil ainda é "um país racista e homofóbico."[8]

Um relatório divulgado pela ONU em 2014, com base em dados coletados no fim de 2013, apontou que os negros do país são os que mais são assassinados, os que têm menor escolaridade, menores salários, menor acesso ao sistema de saúde e os que morrem mais cedo. Também é o grupo populacional brasileiro que mais está presente no sistema prisional e o que menos ocupa postos nos governos. Segundo o relatório, o desemprego entre os afro-brasileiros é 50% superior ao restante da sociedade, enquanto a renda é metade da registrada entre a população branca. As taxas de analfabetismo são duas vezes superiores ao registrado entre o restante dos habitantes. Além disso, apesar de fazerem parte de mais de 50% da população (entre pretos e pardos), os negros representam apenas 20% da produção do produto interno bruto (PIB) do país. A violência policial, especialmente contra os negros, e o racismo institucionalizado também são apontados pelas Nações Unidas: em 2010, 76,6% dos homicídios no país envolveram afro-brasileiros. Apesar de reconhecer avanços no esforço do governo em lidar com o problema, o chamado mito da "democracia racial" foi apontado pela organização internacional como um impedimento para superar o racismo no país, visto que é "frequentemente usado por políticos conservadores para desacreditar ações afirmativas".[9]

  1. G1, ed. (22 de julho de 2011). «Para 63,7% dos brasileiros, cor ou raça influencia na vida, aponta IBGE». Consultado em 13 de fevereiro de 2018 
  2. «Brazil: a century of change - Ignacy Sachs, Jorge Wilheim - Google Books». books.google.com. 2011. Consultado em 28 de outubro de 2011 
  3. UOL, ed. (28 de janeiro de 2016). «Diferença cai em 2015, mas negro ganha cerca de 59% do salário do branco». Consultado em 12 de julho de 2017 
  4. Conselho Regional de Serviço Social (CRESS), ed. (28 de janeiro de 2014). «Percentual de negros assassinados no Brasil é 132% maior do que o de brancos». Consultado em 20 de abril de 2014 
  5. Câmara dos Deputados do Brasil, ed. (8 de outubro de 2018). «Número de deputados negros cresce quase 5%». Consultado em 27 de junho de 2022 
  6. Lili Schwarcz (11 de junho de 2018). «Racismo no Brasil não é só herança da escravidão, diz antropóloga». Folha de S.Paulo. Consultado em 14 de junho de 2020 
  7. Elon International Studies, ed. (2005). «Racial Inequality in Brazil». Consultado em 4 de maio de 2015 
  8. Luciana Nunes Leal (2 de abril de 2011). «Somos um país racista e homofóbico». Estadão. Consultado em 9 de abril de 2011 
  9. UOL, ed. (12 de setembro de 2014). «Racismo no Brasil é institucionalizado, diz ONU». Consultado em 13 de setembro de 2014 

© MMXXIII Rich X Search. We shall prevail. All rights reserved. Rich X Search