Butch e femme

Marcha da Sociedade Lésbica Butch/Femme na Parada do Orgulho Gay de Nova York (2007).

Butch e femme são termos usados na subcultura lésbica e sáfica[1][2][3][4][5] para atribuir ou reconhecer uma expressão de gênero desfeminilizada (butch) ou feminina (femme) com seus traços, comportamentos, estilos, autopercepção e assim por diante.[6][7] Os termos foram fundados em comunidades lésbicas no século XX. Esse conceito foi chamado de "maneira de organizar relações sexuais, gênero e identidade sexual".[8] A cultura butch-femme não é a única forma de um sistema diádico lésbico, pois há muitas mulheres em relacionamentos butch-butch e femme-femme.[9]

Tanto a expressão de lésbicas individuais de expressões butch e femme quanto o relacionamento da população lésbica em geral com a noção de butch e femme como um princípio organizador do relacionamento sexual variaram ao longo do século XX.[10] Algumas feministas lésbicas argumentaram que o butch-femme é uma replicação das relações heterossexuais, enquanto outras comentaristas argumentam que, embora ressoe com os padrões heterossexuais de relacionamento, butch-femme desafia-o simultaneamente.[11] Pesquisas realizadas nos anos 90 nos Estados Unidos mostraram que "95% das lésbicas estão familiarizadas com os códigos butch/femme e podem classificar a si mesmas ou a outras em termos desses códigos, e, no entanto, a mesma porcentagem considera que butch/femme 'não é importante em suas vidas'.[12]

Em português existem as palavras caminhoneira, bolachona, machorra e bofinha (ou bofinho, em alusão a tomboy),[13][14][15][16] que podem ter uso semelhante a butch. O termo sapatona ou sapatão pode ser usado de forma pejorativa como insulto, palavrão, profanação ou calúnia, logo ela se torna incompatível ao uso de butch e comparável a dyke ou bulldyke, por isto muitas mulheres lésbicas usam butch como empréstimo linguístico.[17][18][19][20][21][22][23][24][25][26][27][28] Outro termo semelhante é ursa, ursete e ursula, que tenta copiar urso da cultura gay, para designar mulheres ursinas.[29][30] Há também outras traduções para dyke: fancha, viada, fufa, racha, mulher-macho, macha, cola velcro, marimacho, marimacha, sapa, virago, safista, fessureira e sapatia.[31][32]

Femme, fem ou feme, é comumente usado por pessoas queer que não são essencialmente lésbicas, como mulheres bissexuais, travestis e homens gays ou bissexuais afeminados, indicando uma feminilidade LGBT ou QPoC (pessoa queer de cor, queer person of color), ou que de qualquer forma foge da conformidade e do binário de gênero, mas ainda assim podem usar fem (abreviatura de femme ou feminilidade).[33][34][35][36][37][38][39][40][41][42] A tradução pode ser semelhante às conhecidas palavras sapatilha, sapatinha, sapatinho e sandalhinha, na comunidade lésbica.[43][44]

Butch e femme já foram traduzidos como machão e mocinha também, respectivamente.[45] Desfem pode ser usado por algumas pessoas que são descritas por butch ou futch.[46][47]

  1. Queer, iG (30 de dezembro de 2020). «Casal lésbico ou sáfico? Polêmica fica em destaque no Twitter». Queer. Consultado em 20 de agosto de 2021 
  2. Kayvon, Shervin. «A Brief His and Herstory of Butch And Femme». INTO (em inglês). Consultado em 20 de agosto de 2021 
  3. «Butch-Femme» (PDF). glbtq.com 
  4. «HER - The Official Lesbian Slang Glossary from HER». Her (em inglês). Consultado em 7 de maio de 2021 
  5. Torres, Bolivar (26 de junho de 2021). «Identidade sáfica: como uma poeta nascida há 2 mil anos virou referência nos estudos de gênero». O Globo. Consultado em 4 de novembro de 2021 
  6. Hollibaugh, Amber L. (2000). My Dangerous Desires: A Queer Girl Dreaming Her Way Home. Duke University Press. [S.l.: s.n.] 249 páginas. ISBN 978-0822326199 
  7. Boyd, Helen (2004). My Husband Betty: Love, Sex and Life With a Cross-Dresser. Sdal Press. [S.l.: s.n.] 64 páginas. ISBN 978-1560255154 
  8. Kramararae, Chris (2000). Rutledge International Encyclopaedia of Women. Routledge. [S.l.: s.n.] 133 páginas. ISBN 978-0415920896 
  9. Beeming, Brett (1996). Queer Studies: A Lesbian, Gay, Bisexual and Transgender Anthology. NYU press. [S.l.: s.n.] pp. 23–27. ISBN 978-0814712580 
  10. Harmon, Lori (2007). Gender Identity, Minority Stress, And Substance Use Among Lesbians. ProQuest. [S.l.: s.n.] pp. 5–7. ISBN 978-0549398059 
  11. Sullivan, Nikki (2003). Critical Introduction to Queer Theory. Edinburgh University Press. [S.l.: s.n.] ISBN 978-0748615971 
  12. Caramagno, Thomas C. (2002). Irreconcilable Differences? Intellectual Stalemate in the Gay Rights Debate. Greenwood Publishing Group. [S.l.: s.n.] ISBN 978-0275977115 
  13. Giusti, Iran (17 de agosto de 2013). «Conheça as bofinhos: jeitão de menino e sempre prontas para uma cerveja - Home - iG». iGay. Consultado em 7 de fevereiro de 2020 
  14. Vieira, Renan (11 de fevereiro de 2019). «O Sétimo Guardião: Diana diz que é lésbica e Rivalda dispara: "sapatão?"». Observatório da TV. Consultado em 8 de fevereiro de 2020 
  15. «Conheça algumas gírias dos gays». Extra Online. Consultado em 8 de fevereiro de 2020 
  16. «O que significa Bofe ou Bofinha?». Yahoo Respostas. 15 de abril de 2009. Consultado em 7 de fevereiro de 2020 
  17. «Documentário retrata trajetória de uma caminhoneira transexual e lésbica». Ponte Jornalismo. 30 de março de 2019. Consultado em 7 de fevereiro de 2020 
  18. Facco, Lúcia (2003). As heroínas saem do armário: literatura lésbica contemporânea. [S.l.]: Edicoes GLS. ISBN 978-85-86755-38-5 
  19. Infopédia. «Sapatona | Definição ou significado de Sapatona no Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». Infopédia - Dicionários Porto Editora. Consultado em 7 de fevereiro de 2020 
  20. «O que é ser sapatão hoje?». Revista Marie Claire. Consultado em 7 de fevereiro de 2020 
  21. «8 tipos de sapatão mais comuns que você com certeza já conheceu». Superela (em inglês). 5 de setembro de 2019. Consultado em 8 de fevereiro de 2020 
  22. Magallissima. «Você é uma sapatão POC?». BuzzFeed. Consultado em 8 de fevereiro de 2020 
  23. «[Cheiro de Couro]: Nem toda lésbica é uma caminhoneira ou uma novinha descolada | Me Salte». Consultado em 8 de fevereiro de 2020 
  24. «Modelo foi chamada de sapatão a caminhoneira por cabelo». Terra. Consultado em 8 de fevereiro de 2020 
  25. «'Sou sapatão e não um mesclado de estereótipos'». HuffPost Brasil. 5 de maio de 2017. Consultado em 8 de fevereiro de 2020 
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  30. K, Kristi (28 de janeiro de 2013). «In Search of Bear-ettes: Where is the Lesbian Bear community?». The K Word (em inglês). Consultado em 7 de fevereiro de 2020 
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  45. Anderson*, Ryan. «A ideologia de gênero e as mentiras a seu filho». Gazeta do Povo. Consultado em 6 de janeiro de 2023 
  46. Lesbocine (1 de agosto de 2023). «Especial Mês Lésbico: "A vida da mulher lésbica e desfem é se provar o tempo todo", desabafou a produtora Halana Lacerda». Consultado em 8 de abril de 2024 
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