Camp

Susan Sontag em 1979 / ©Lynn Gilbert crop
Susan Sontag em 1979.

Camp (do inglês norte-americano, lit. "levantar acampamento" ou "acampar") é uma gíria para comportamento, atitude ou interpretação exagerada, artificial ou teatral; ou ainda um adjetivo que significa algo de mau gosto, muito artificial, exagerado, "cafona" ou "brega".[1] Também pode ser interpretado como sinônimo de exagero, ou como uma "afetação a uma estética especial que ironiza ou ridiculariza o que é dominante", como disse Susan Sontag em seu artigo clássico Notes on "camp" de 1964.[2]

O surgimento da palavra Camp em seu novo significado data-se em torno de 1909.[3] Na época, começou a ser utilizada por homens gays que lutavam contra os meios hétero normativos em que viviam, isso é, situações nas quais orientações sexuais diferentes da heterossexual são marginalizadas, ignoradas ou perseguidas por práticas sociais, crenças ou políticas. Era comum usarem palavras já conhecidas, porém com significados diferentes, como forma de 'código', para mascarar sua homossexualidade nesses espaços.[3] Assim, "camp" que antes significava apenas "acampar" em inglês, ganhou um novo significado, como forma de expressarem sua homoafetividade. O camp, nesse sentido, foi derivado do francês: 'se camper', que significa "posar de forma exagerada".[3]

Oscar Wilde em foto de 1882 por Napoleon Sarony, em Nova Iorque. Wilde é citado por Sontag em seu ensaio, e dedica suas notas ao escritor.
Oscar Wilde em foto de 1882 por Napoleon Sarony, em Nova Iorque. Wilde é citado por Susan Sontag em seu ensaio, e dedica suas notas ao escritor.

O camp decola ao final do século XVII e início do XVIII, surgindo por causa da imensa sensibilidade daquela época ao exagerado, à aparência, ao seu gosto pelo novo e pelo excitante. Em 1954, o termo foi apresentado pelo escritor Christopher Isherwood no romance The World in the Evening (O Mundo ao Entardecer) e dez anos depois analisado com profundidade por Susan Sontag, que fala: "camp é um certo tipo de esteticismo. É uma maneira de ver o mundo como um fenômeno estético. Essa maneira não se refere à beleza, mas ao grau de artifício, de estilização." Seu artigo ficou conhecido na área acadêmica como a primeira tentativa de se compreender uma espécie de sensibilidade estética que se tornou "um elemento definidor, sem ser totalizador, da identidade homossexual"[4]

Bob The Drag Queen na convenção RuPaul's DragCon em 2017.

A partir da metade da década de 1970, entretanto, a definição também passou a incorporar em seu significado o tom da banalidade, artificialidade, mediocridade e ostentação. A escritora estadunidense Susan Sontag enfatizou os elementos-chave da cultura camp como sendo a artificialidade, a frivolidade, a pretensão ingênua da classe média e os excessos provocados pelo choque. A estética camp é popular desde a década de 1960 até o século XXI e atingiu seu auge nas décadas de 1970, 1980 e início dos anos 1990.[5]

O camp porém, apesar de ser uma parte essencial da cultura LGBTQ+, não é estritamente homossexual, visto que, na atualidade já atingiu diversos públicos e se tornou uma enorme referência estética para todos os meios. "Nem todos os homossexuais tem um gosto "camp" . Mas homossexuais, por sua maioria, constituem a vanguarda e mais articulada audiência do "Camp", escreveu Susan Sontag.[6]

  1. Luiz Lugani Gomes (2003). Novo Dicionário de Expressões Idiomáticas Americanas. [S.l.]: Cengage Learning Editores. p. 66. ISBN 978-85-221-0290-7 
  2. Sally Everett (1 de janeiro de 1991). Art Theory and Criticism: An Anthology of Formalist, Avant-Garde, Contextualist, and Post Modernist Thought. [S.l.]: McFarland. p. 96. ISBN 978-0-7864-0140-6 
  3. a b c E. DUSHEL, Bruce; M. PETERS, Brian (2017). Sontag and the Camp Aesthetic: Advancing New Perspectives. Lanham: Lexington Books. p. 127. ISBN 9781498537773 
  4. LOPES, Denilson (2002). O homem que amava rapazes e outros ensaios. Rio de Janeiro: Aeroplano. p. 94 
  5. MAHAMAD GANDHOUR, Kassem (2008). «MARUJOS A BORDO» (PDF). Universidade Presbiteriana Mackenzie. O DESEJO HOMOERÉTICO, A ESTÉTICA CAMP E A MODA DE GAULTIER: 85. Consultado em 14 de dezembro de 2022 
  6. SONTAG, Susan (1964). Notes on "camp". [S.l.: s.n.] p. 330 

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