Design inteligente

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Um relógio de bolso do tipo savonette
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O desenho inteligente, design inteligente ou projeto inteligente (em inglês Intelligent Design) é uma hipótese pseudocientífica,[1][2][3] baseada na assertiva de que certas características do universo e dos seres vivos são mais bem explicadas por uma causa inteligente, e não por um processo não-direcionado (e não estocástico) como a seleção natural; e que é possível a inferência inequívoca de projeto sem que se façam necessários conhecimentos sobre o projetista, seus objetivos ou sobre os métodos por esse empregados na execução do projeto.[4][5]

Embora seus defensores neguem conexões a questões religiosas, quase sempre enfatizando-o como imbuído de caráter puramente científico, o desenho inteligente retém em seus alicerces uma forma moderna do tradicional argumento teleológico para a existência de Deus, modificado para evitar especificações sobre a natureza ou identidade do criador.[6] A ideia foi inicialmente elaborada por um grupo de criacionistas americanos que reformularam o argumento em face à controvérsia da criação versus evolução para contornar a legislação americana que proíbe o ensino do criacionismo nas escolas como se esta hipótese fosse equiparável às teorias científicas; e gradualmente espalhou-se por diversos países e continentes.[7][8][9] Seus defensores mais contundentes, todos eles associados ao Discovery Institute, sediado nos Estados Unidos,[10][11] acreditam que o criador é o Deus do cristianismo.[12][13] No Brasil o movimento encontra-se atualmente representado entre outros pela Sociedade Brasileira do Design Inteligente, que em seu primeiro manifesto, de forma aparentemente contraditória, reconhece que a teoria que defende não encontra apoio entre a maioria no meio acadêmico e posiciona-se contra o ensino do Desenho Inteligente em escolas públicas e privadas (confessionais ou não) em vista da cenário global atualmente configurado.[14][15][16] Em 2017 a Universidade Presbiteriana Mackenzie e o Discovery Institute estabeleceram parceria de divulgação do design inteligente no Brasil e criaram o "Núcleo Discovery-Mackenzie".

Segundo os principais defensores, sua pesquisa é análoga à de detetives que, diante de uma pessoa morta, buscam sinais de que aquele evento não foi acidental (ou que isto é, de fato, impossível), indicando que há um assassino. Seus pesquisadores buscam no mundo natural - e principalmente em estruturas biológicas - sinais de planejamento, funcionalidade e propósito. Assumindo a veracidade da premissa, tais pesquisadores alegam que, se os detetives concluem inequivocamente que há um criminoso mesmo sem conhecer os motivos que o impeliram ou sem saber quem ele é, eles também podem concluir que há uma criação sem dispor de dados adicionais sobre o criador. De acordo com os críticos, entretanto, as pesquisas atreladas ao desenho inteligente focam-se apenas na busca por evidências (biológicas) favoráveis e não nas conseqüências de todas as descobertas e evidências; violando os preceitos do Método Científico em diversos pontos. Defensores da criação inteligente alegam que ela seja uma teoria científica,[17] e buscam fundamentalmente redefinir a ciência para que a mesma aceite explicações sobrenaturais.[18]

O consenso da comunidade científica é de que a criação inteligente não é ciência, mas na verdade pseudociência. [19][20][21][22]A Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos já declarou que o "criacionismo, design inteligente e outras alegações de intervenção sobrenatural na origem da vida" não são ciências porque elas não podem ser testadas por métodos científicos.[23] A Associação de Professores de Ciências dos Estados Unidos e a Associação Americana para o Avanço da Ciência igualmente a classificaram como pseudociência. [24] A Sociedade Brasileira de Genética publicou oficialmente que não há qualquer respaldo científico no design inteligente e em outras teorias criacionistas, explicando que esta posição é consensual na comunidade científica.[25] A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) também já manifestou-se contra o posicionamento como ciência e ensino como ciência de teorias criacionistas, entre as quais o desenho inteligente,[26] o mesmo o fazendo o Ministério da Educação e Cultura (MEC).[27] Há inúmeros outros organismos científicos que rejeitam o design inteligente. O biólogo Richard Dawkins afirma que o design inteligente é um tipo de negacionismo semelhante ao negacionismo do Holocausto.[28]

Não obstante às críticas, os defensores do desenho inteligente mantiveram-se e mantém-se firmes em defesa de seus ideais, sobretudo nos Estados Unidos; por vezes perpetrando disputas épicas não apenas em âmbito sócio-cultural mas também em âmbitos legislativo e jurídico. Recentemente tornaram-se notórios o "Julgamento do Macaco", termo usado para se referir ao caso contra o professor de biologia John Thomas Scopes, de 25 anos, acusado de ensinar a teoria da evolução em uma escola pública na cidade norte americana de Dayton (1925) e também o caso Kitzmiller versus Dover Area School District (2005), onde um grupo de pais e professores interpôs processo contra o conselho escolar da cidade de Dover por exigir o ensino do Design Inteligente como alternativa à evolução biológica em aulas de ciências da instituição.

  1. Boudry, Maarten; Blancke, Stefaan; Braeckman, Johan (Dezembro de 2010). «Irreducible Incoherence and Intelligent Design: A Look into the Conceptual Toolbox of a Pseudoscience». Chicago, IL: University of Chicago Press. The Quarterly Review of Biology. 85 (4): 473–482. PMID 21243965. doi:10.1086/656904  Article available from Universiteit Gent
  2. Pigliucci 2010
  3. Young & Edis 2004 pp. 195-196, Section heading: But is it Pseudoscience?
  4. «Top Questions-1.What is the theory of intelligent design?». Discovery Institute. Consultado em 13 de maio de 2007 .
  5. «Primer: Intelligent Design Theory in a Nutshell» (PDF). Intelligent Design and Evolution Awareness Center. 2004. Consultado em 13 de maio de 2007 
    «Intelligent Design». Intelligent Design network. 2007. Consultado em 13 de maio de 2007 
  6. Numbers, Ronald L. (2006). The Creationists, Expanded Edition. [S.l.]: Harvard University Press. pp. 373, 379–380. ISBN 0674023390 
  7. Kitzmiller v. Dover Area School District (2005), Context pg. 32 ff, citing Edwards v. Aguillard.
  8. "ID is not a new scientific argument, but is rather an old religious argument for the existence of God. He traced this argument back to at least Thomas Aquinas in the 13th century, who framed the argument as a syllogism: Wherever complex design exists, there must have been a designer; nature is complex; therefore nature must have had an intelligent designer." "This argument for the existence of God was advanced early in the 19th century by Reverend Paley" (the teleological argument) "The only apparent difference between the argument made by Paley and the argument for ID, as expressed by defense expert witnesses Behe and Minnich, is that ID's 'official position' does not acknowledge that the designer is God." Kitzmiller v. Dover Area School District (2005), Ruling, p. 24.
  9. Forrest, Barbara (maio de 2007). «Understanding the Intelligent Design Creationist Movement: Its True Nature and Goals. A Position Paper from the Center for Inquiry, Office of Public Policy» (PDF). Washington, D.C.: Center for Inquiry, Inc. Consultado em 6 de agosto de 2007 .
  10. "Q. Has the Discovery Institute been a leader in the intelligent design movement? A. Yes, the Discovery Institute's Center for Science and Culture. Q. And are almost all of the individuals who are involved with the intelligent design movement associated with the Discovery Institute? A. All of the leaders are, yes". Barbara Forrest, 2005, testifying in the Kitzmiller v. Dover Area School District trial. «Kitzmiller v. Dover Area School District Trial transcript: Day 6 (October 5), PM Session, Part 1.». The TalkOrigins Archive. 2005. Consultado em 19 de julho de 2007 
    • "The Discovery Institute is the ideological and strategic backbone behind the eruption of skirmishes over science in school districts and state capitals across the country". In: Wilgoren, J (21 de agosto de 2005). «Politicized Scholars Put Evolution on the Defensive» (PDF). The New York Times. Consultado em 19 de julho de 2007 
    «Who is behind the ID movement?». Frequently Asked Questions About "Intelligent Design". American Civil Liberties Union. 16 de setembro de 2005. Consultado em 20 de julho de 2007 
    Kahn, JP (27 de julho de 2005). «The Evolution of George Gilder. The Author And Tech-Sector Guru Has A New Cause To Create Controversy With: Intelligent Design». The Boston Globe. Consultado em 19 de julho de 2007 
    «Who's Who of Intelligent Design Proponents». Science & Religion Guide. Science & Theology News. 2005. Consultado em 20 de julho de 2007  (PDF file from Discovery Institute).
    • "The engine behind the ID movement is the Discovery Institute". Attie, Alan D.; Elliot Sober, Ronald L. Numbers, Richard M. Amasino, Beth Cox4, Terese Berceau, Thomas Powell and Michael M. Cox (2006). «Defending science education against intelligent design: a call to action». Journal of Clinical Investigation 116:1134–1138. doi:10.1172/JCI28449. A publication of the American Society for Clinical Investigation. Consultado em 20 de julho de 2007 
  11. «Science and Policy: Intelligent Design and Peer Review». American Association for the Advancement of Science. 2007. Consultado em 19 de julho de 2007. Arquivado do original em 6 de junho de 2012 
  12. "the writings of leading ID proponents reveal that the designer postulated by their argument is the God of Christianity". Kitzmiller v. Dover Area School District (2005), Ruling p. 26. A selection of writings and quotes of intelligent design supporters demonstrating this identification of the Christian God with the intelligent designer are found in the pdf Horse's Mouth Arquivado em 28 de outubro de 2008, no Wayback Machine. by Brian Poindexter, dated 2003.
  13. «Manifesto do Design Inteligente». Sociedade Brasileira do Desenho Inteligente. Consultado em 13 de fevereiro de 2016 [ligação inativa] 
  14. «Confira o manifesto do Design Inteligente - Tubo de Ensaio». Tubo de Ensaio. 18 de novembro de 2014 
  15. José Lopes, Reinaldo (11 de julho de 2016). «Sai o manifesto do Design Inteligente | Darwin e Deus». Folha de S.Paulo. Consultado em 6 de junho de 2017 
  16. «Top Questions about intelligent design». Discovery Institute. Consultado em 13 de maio de 2007 
  17. Stephen C. Meyer and Paul A. Nelson, May 1, 1996, CSC – Getting Rid of the Unfair Rules, A book review, Origins & Design, Retrieved 2007-05-20,
    • Phillip E. Johnson, August 31, 1996, Starting a Conversation about Evolution, Access Research Network Phillip Johnson Files, Retrieved 2007-05-20,
    • Stephen C. Meyer, December 1, 2002, Ignatius Press. The Scientific Status of Intelligent Design: The Methodological Equivalence of Naturalistic and Non-Naturalistic Origins Theories,
    • Kitzmiller v. Dover Area School District (2005), Whether ID Is Science,
    • Kitzmiller v. Dover Area School District (2005), Lead defense expert Professor Behe admitted that his broadened definition of science, which encompasses ID, would also include astrology.
    • See also Evolution of Kansas science standards continues as Darwin's theories regain prominence International Herald Tribune, February 13, 2007, Retrieved 2007-05-20.
  18. See: 1) List of scientific societies rejecting intelligent design 2) Kitzmiller v. Dover page 83. 3) The Discovery Institute's A Scientific Dissent From Darwinism petition begun in 2001 has been signed by "over 700 scientists" as of August 20, 2006. A four day A Scientific Support for Darwinism petition gained 7733 signatories from scientists opposing ID. The AAAS, the largest association of scientists in the U.S., has 120,000 members, and firmly rejects ID. More than 70,000 Australian scientists and educators condemn teaching of intelligent design in school science classesList of statements from scientific professional organizations Arquivado em 28 de março de 2008, no Wayback Machine. on the status intelligent design and other forms of creationism. According to The New York Times "There is no credible scientific challenge to the theory of evolution as an explanation for the complexity and diversity of life on earth". Dean, Cordelia (27 de setembro de 2007). «Scientists Feel Miscast in Film on Life's Origin». The New York Times. Consultado em 28 de setembro de 2007 
  19. «Teachernet, Document bank». Creationism teaching guidance. UK Department for Children, Schools and Families. 18 de setembro de 2007. Consultado em 1 de outubro de 2007. The intelligent design movement claims there are aspects of the natural world that are so intricate and fit for purpose that they cannot have evolved but must have been created by an 'intelligent designer'. Furthermore they assert that this claim is scientifically testable and should therefore be taught in science lessons. Intelligent design lies wholly outside of science. Sometimes examples are quoted that are said to require an 'intelligent designer'. However, many of these have subsequently been shown to have a scientific explanation, for example, the immune system and blood clotting mechanisms.
    Attempts to establish an idea of the 'specified complexity' needed for intelligent design are surrounded by complex mathematics. Despite this, the idea seems to be essentially a modern version of the old idea of the "God-of-the-gaps". Lack of a satisfactory scientific explanation of some phenomena (a 'gap' in scientific knowledge) is claimed to be evidence of an intelligent designer.
     
  20. Nature Methods Editorial (2007). «An intelligently designed response». Nat. Methods. 4 (12). 983 páginas. doi:10.1038/nmeth1207-983 
  21. Mark Greener (2007). «Taking on creationism. Which arguments and evidence counter pseudoscience?». EMBO Reports. 8 (12): 1107–1109. doi:10.1038/sj.embor.7401131 
  22. National Academy of Sciences, 1999 Science and Creationism: A View from the National Academy of Sciences, Second Edition
  23. National Science Teachers Association, a professional association of 55,000 science teachers and administrators in a 2005 press release: "We stand with the nation's leading scientific organizations and scientists, including Dr. John Marburger, the president's top science advisor, in stating that intelligent design is not science. ...It is simply not fair to present pseudoscience to students in the science classroom". National Science Teachers Association Disappointed About Intelligent Design Comments Made by President Bush National Science Teachers Association Press Release August 3, 2005.
    • "for most members of the mainstream scientific community, ID is not a scientific theory, but a creationist pseudoscience". Trojan Horse or Legitimate Science: Deconstructing the Debate over Intelligent Design Arquivado em 24 de julho de 2007, no Wayback Machine. David Mu. Harvard Science Review, Volume 19, Issue 1, Fall 2005.
    • "Creationists are repackaging their message as the pseudoscience of intelligent design theory". Professional Ethics Report Arquivado em 3 de janeiro de 2011, no Wayback Machine. American Association for the Advancement of Science, 2001.
  24. «Ciência e Criacionismo» (PDF). Sociedade Brasileira de Genética. 2012. Consultado em 13 de fevereiro de 2016  Sítios eletrônicos: http://www.sbg.org.br/#!noticias/c8he | http://www.sbg.org.br
  25. Carta à Câmara dos Deputados - SBPC - 28 de novembro de 2014. Acessada no sítio http://www.sbpcnet.com.br/site/arquivos/arquivo_402.pdf às 21:55 horas UTC de 13 de fevereiro de 2016.
  26. MEC diz que criacionismo não é tema para aula de ciências - Universidade Federal de Campina Grande - Assessoria de Imprensa - Sítio eletrônico: http://www.ufcg.edu.br/prt_ufcg/assessoria_imprensa/mostra_noticia.php?codigo=8164 acessado às 22:10 horas UTC de 13 de fevereiro de 2016
  27. Dawkins, Richard (2009). O Maior Espetáculo da Terra - As Evidências da Evolução. São Paulo: Companhia das Letras. pp. 13–14. ISBN 9788535915723 

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