Integralismo

 Nota: Para outros significados, veja Integralismo (desambiguação).
Rei Luís IX da França encontrando-se com o Papa Inocêncio IV.

Integralismo ou integrismo é uma interpretação política da Doutrina Social Católica que defende o princípio de que a religião católica deve ser a base do sistema legal e das políticas do Estado dentro da sociedade civil, onde quer que a preponderância dos católicos dentro dessa sociedade torne isso possível. O integralismo é contra o pluralismo[1] e defende que a fé católica deve ser dominante tanto nas questões civis, como nas religiosas. Os integralistas defendem a definição de 1864 do Papa Pio IX em sua encíclica Quanta cura de que a neutralidade religiosa do poder civil não pode ser abraçada como uma situação ideal e a doutrina de Leão XIII em Immortale Dei sobre as obrigações religiosas dos Estados.[2] Em dezembro de 1965, o Concílio Vaticano II aprovou e o Papa Paulo VI promulgou o documento Dignitatis humanae – a “Declaração sobre a Liberdade Religiosa” do Concílio – que afirma que “deixa intocada a doutrina católica tradicional sobre o dever moral dos homens e das sociedades para com a verdadeira religião e para a única Igreja de Cristo". No entanto, eles declararam simultaneamente "que a pessoa humana tem direito à liberdade religiosa", um movimento que alguns católicos tradicionalistas, como o arcebispo Marcel Lefebvre, fundador da Fraternidade Sacerdotal de São Pio X, argumentaram que está em desacordo com os posicionamentos doutrinários anteriores da igreja.[3][4]

O termo às vezes é usado de forma mais livre e em contextos não católicos para se referir a um conjunto de conceitos teóricos e políticas práticas que defendem uma ordem social e política totalmente integrada com base em uma doutrina abrangente da natureza humana. Nesse sentido genérico, algumas formas de integralismo estão focadas puramente em alcançar a integração política e social, outras na unidade nacional ou étnica, enquanto outras estão mais focadas em alcançar a uniformidade religiosa e cultural. O integralismo, portanto, também foi usado para descrever movimentos religiosos não-católicos, como o protestantismo fundamentalista ou o fundamentalismo islâmico.[5] Na história política e social dos séculos XIX e XX, o termo integralismo foi frequentemente aplicado ao conservadorismo tradicionalista e movimentos políticos similares na ala direita de um espectro político, mas também foi adotado por vários movimentos centristas como uma ferramenta de integração política, nacional e cultural.

Como movimento cívico-político-cultural de renovação moral e social,[6] o integralismo surgiu das polêmicas discussões internas da Igreja Católica no final do século XIX e início do século XX, especialmente na França.[7] O termo integralista foi usado como adjetivo para descrever aqueles que se opunham aos "modernistas filosóficos-catolicistas", que procuravam criar uma síntese entre a teologia cristã e a filosofia liberal da modernidade secular. Os defensores do integralismo pregavam que toda ação social e política deveria ser baseada na fé católica e rejeitavam a separação entre Igreja e Estado, argumentando que o catolicismo deveria ser proclamado a religião do Estado.[1] Discussões contemporâneas dentro da Igreja Católica a respeito do integralismo foram renovadas com críticas ao liberalismo.[8][9]

No Brasil, o catolicismo influenciou o movimento político do integralismo entre 1932 e 1937, sendo este considerado um braço político e fascista da Igreja Católica.[10][11] Em Portugal, o Integralismo Lusitano foi um movimento político surgido em 1914, de carácter monárquico, católico, nacionalista e antiliberal, que se opunha tanto à democracia republicana de 1910 como à monarquia constitucional de 1820. Defendia o regresso a uma monarquia tradicional, nacionalista e antiparlamentar, na qual o monarca seria o chefe de Estado e concentraria em si as funções governativas e executivas.[12]

As discussões contemporâneas sobre o integralismo foram renovadas em 2014, com foco na crítica ao liberalismo e ao capitalismo.[13][14]

  1. a b Krogt, Christopher van der (1992). «Catholic Fundamentalism or Catholic Integralism?». To Strive and not to Yield: Essays in Honour of Colin Brown. Wellington: The Department of World Religions, Victoria University. pp. 123–135. Consultado em 29 de dezembro de 2019 
  2. Newman, John Henry. «A Letter Addressed to the Duke of Norfolk on Occasion of Mr. Gladstone's Recent Expostulation». newmanreader.org. National Institute for Newman Studies. Consultado em 6 de julho de 2023. Cópia arquivada em 24 de fevereiro de 2021 
  3. «Texto da Declaração Dignitatis Humanae sobre a Liberdade Religiosa». 7 de dezembro de 1965. Consultado em 6 de julho de 2023 
  4. Egan, Philip A. (2009). Philosophy and Catholic Theology: A Primer (em inglês). [S.l.]: Liturgical Press 
  5. Shepard, William (outubro de 1987). «'Fundamentalism' Christian and Islamic». Religion (em inglês). 17 (4): 355–378. ISSN 0048-721X. doi:10.1016/0048-721X(87)90059-5. Consultado em 6 de julho de 2023 
  6. Barbuy, Victor Emanuel Vilela (13 de fevereiro de 2015). «O Estado Integral e a Economia». integralismo.org.br. Frente Integralista Brasileira. Consultado em 6 de julho de 2023 
  7. Jeffries, Vincent (1 de julho de 2003). «The Nature of Integralism». Catholic Social Science Review. Consultado em 29 de dezembro de 2019 
  8. «'Weird Catholic Twitter' offers a reminder of Catholic complexity». John L. Allen Jr. Crux. Consultado em 29 de dezembro de 2019 
  9. O.Cist, Edmund Waldstein. «What Is Integralism Today?». Church Life Journal (em inglês). Consultado em 29 de dezembro de 2019 
  10. Williams, Margaret Todaro (1974). «Integralism and the Brazilian Catholic Church». The Hispanic American Historical Review. 54 (3): 431–452. ISSN 0018-2168. doi:10.2307/2512932. The more dramatic aspects of Integralism, such as its violence and its fascist trappings [...] have obscured the fact that Integralism often acted, although implicitly, as a political arm of the Catholic Church. [...] Their search for a 'third way,' an effort not yet sufficiently investigated or appreciated, often led them to espouse modified versions of European fascism. 
  11. Bertonha, João Fábio (2000). «Between Sigma and Fascio: An Analysis of the Relationship between Italian Fascism and Brazilian Integralism». Luso-Brazilian Review. 37 (1): 93–105. ISSN 0024-7413 
  12. «Integralismo Lusitano». Infopédia, Enciclopédia de Língua Portuguesa da Porto Editora. Consultado em 30 de dezembro de 2019 
  13. Deneen, Patrick J. (6 de fevereiro de 2014). «A Catholic Showdown Worth Watching». The American Conservative (em inglês). Consultado em 6 de julho de 2023. Cópia arquivada em 22 de julho de 2019 
  14. Allen Jr., John L. (27 de abril de 2018). «'Weird Catholic Twitter' offers a reminder of Catholic complexity». Crux (em inglês). Consultado em 6 de julho de 2023. Cópia arquivada em 16 de abril de 2019 

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