Samba

 Nota: Para outros significados, veja Samba (desambiguação).
Samba
Samba
Roda de samba no Rio de Janeiro em 1936
Origens estilísticas batuques afro-brasileiros e danças de tradição rural, especialmente o samba de roda baiano, do século XIX
Contexto cultural Início do século XX no Rio de Janeiro
Instrumentos típicos Diversos instrumentos de cordas (como cavaquinho e vários tipos violão) e variados instrumentos de percussão (como pandeiro, surdo e tamborim); Algumas vertentes utilizam instrumentos de sopro
Popularidade Popular em todo o Brasil. Bem conhecido no exterior.
Subgêneros
Bossa nova, pagode, samba-canção, samba-choro, samba-jazz, samba de breque, samba de enredo, samba de exaltação, samba de partido-alto, samba de terreiro, sambalanço, entre outros.
Outros tópicos
Carnaval do Brasil, Escola de samba, samba de roda

Samba, também conhecido como samba urbano carioca[1][2] ou simplesmente samba carioca,[3][4] é um gênero musical brasileiro que se originou entre as comunidades afro-brasileiras urbanas do Rio de Janeiro no início do século XX.[5][6] Tendo suas raízes na expressão cultural da África Ocidental e nas tradições folclóricas brasileiras,[7] especialmente aquelas ligadas ao samba rural primitivo[5] dos períodos colonial e imperial,[8] é considerado um dos mais importantes fenômenos culturais do Brasil[9][10] e um dos símbolos do país.[11][12][13][14] Presente na língua portuguesa ao menos desde o século XIX, a palavra “samba” era originariamente empregada para designar uma “dança popular” ou um “bailado popular”.[15] Com o tempo, seu significado foi estendido a uma “dança de roda semelhante ao batuque” e também a um “gênero de canção popular”.[15][16] Esse processo de firmação como gênero musical iniciou-se na década de 1910[17] e teve na obra “Pelo Telefone”, lançada pela Odeon em 1917, o seu grande marco inaugural.[18] Apesar de identificado por seus criadores, pelo público e pela indústria fonográfica como “samba”, esse era muito mais ligado do ponto de vista rítmico e instrumental ao maxixe do que ao samba propriamente dito.[17][19][20]

Somente no final da década de 1920 que o samba estruturou-se como é conhecido modernamente.[17][19][21] Tendo nascido no bairro do Estácio e logo estendido a Oswaldo Cruz e outras partes da cidade através de seus ramais ferroviários,[22] esse samba trazia inovações no ritmo, na melodia e também em aspectos temáticos.[23] Sua mudança rítmica baseada em um novo padrão instrumental percussivo resultou em um estilo mais batucado e sincopado[24] – oposto ao samba amaxixado inaugural[25] – notadamente assinalado por um andamento mais acelerado, notas mais longas e uma cadência marcada muito além das simples palmas usadas até então.[26][27] O paradigma estaciano também inovou na formatação do samba como canção, organizada em primeira e segunda partes tanto na melodia quanto na letra.[20][28][29] Ao criarem um novo referencial musical reconfigurado, estruturado e delimitado, os sambistas do Estácio definiram o samba como gênero de maneira moderna e acabada.[20] Nesse processo de estabelecimento como expressão musical urbana e moderna, o samba carioca contou com o papel decisivo das escolas de samba, responsáveis por delimitar e legitimar definitivamente as bases estéticas do ritmo,[30] e do rádio, que contribuiu sobremaneira na difusão e popularização do gênero e de seus intérpretes de canção.[31] Destarte, o samba alcançou grande projeção em todo o Brasil e se tornou um dos principais símbolos da identidade nacional brasileira.[nota 1][nota 2][7] Outrora criminalizado e visto com preconceito por suas origens afro-brasileiras, o gênero de canção também conquistou respaldo entre integrantes das classes mais favorecidas e da elite cultural do país.[12][34]

Ao mesmo tempo que se firmou como gênese do samba carioca,[19] o paradigma do samba do Estácio abriu caminho para a sua fragmentação, ao longo do século XX, em novos subgêneros e estilos de composição e interpretação.[17][35] Principalmente a partir da chamada “época de ouro” da música brasileira,[36] o samba recebeu fartas categorizações, algumas das quais denotando sólidas e bem aceitas vertentes derivadas – como a bossa nova, o pagode, o partido alto, o samba de breque, o samba-canção, o samba de enredo e o samba de terreiro – enquanto outras nomenclaturas foram um tanto mais imprecisas – como samba à moda agrião, samba do barulho, samba epistolar ou samba fonético[37] – e algumas ainda meramente depreciativas – como sambalada,[38] sambolero ou sambão joia.[39]

O samba urbano carioca tem ritmo basicamente 2/4 e andamento variado[15] com aproveitamento consciente das possibilidades dos refrãos cantados ao som de palmas e ritmo batucado, em que foram acrescidos uma ou mais partes de versos declamatórios.[6][40] Sua instrumentação tradicional é composta por instrumentos de percussão como o pandeiro, a cuíca, o tamborim, o ganzá e o surdo[41][42][43] e de acompanhamento – cuja inspiração é o choro – como o violão e o cavaquinho.[44][45] Em 2007, o Iphan declarou o samba carioca e três de suas matrizes – o samba de terreiro, o samba de partido-alto e o samba de enredo – como patrimônio cultural do Brasil.[46][47][48][49]

  1. Lopes & Simas 2015, p. 182.
  2. Fenerick 2002, p. 86.
  3. Bolão 2009, p. 21.
  4. Lima 2015, pp. 123-124.
  5. a b Lopes & Simas 2015, p. 254.
  6. a b Marcondes 1977, p. 684.
  7. a b Iphan 2014, pp. 10,15.
  8. Lopes & Simas 2015, p. 253.
  9. Lopes & Simas 2015, p. 9.
  10. Iphan 2014, pp. 9-10.
  11. Lopes 2019, p. 130.
  12. a b Benzecry 2015, p. 43.
  13. Paranhos 2003, p. 109.
  14. Benzecry 2015, pp. 17-18.
  15. a b c Lopes & Simas 2015, p. 247.
  16. Frugiuele 2015, p. 105.
  17. a b c d Lopes 2019, p. 112.
  18. Lopes & Simas 2015, pp. 219; 254.
  19. a b c Lopes & Simas 2015, p. 11.
  20. a b c Matos 2015, p. 126.
  21. Sandroni 2001, p. 80.
  22. Lopes & Simas 2015, pp. 138; 182.
  23. Paiva 2010, p. 39.
  24. Lopes & Simas 2015, p. 276.
  25. Paiva 2010, p. 36.
  26. Franceschi 2010, pp. 52-53.
  27. Marcondes 1977, pp. 708-709.
  28. Paranhos 2003, p. 85.
  29. Paiva 2010, p. 87.
  30. Paiva 2010, p. 38.
  31. Lopes & Simas 2015, p. 235.
  32. Vianna 1995, p. 151.
  33. Vianna 1995, p. 34.
  34. Lopes & Simas 2015, p. 183.
  35. Lopes & Simas 2015, p. 279.
  36. Mello & Severiano 1997, p. 241.
  37. Matos 2015, p. 127.
  38. Lopes & Simas 2015, p. 269.
  39. Lopes & Simas 2015, p. 271.
  40. Mello 2000, p. 215.
  41. Lopes & Simas 2015, p. 220.
  42. Bolão 2009, pp. 22-44.
  43. Santos 2018, pp. 107-109.
  44. Tinhorão 1990, pp. 296-297.
  45. Carvalho 2006, pp. 153-154.
  46. Iphan 2014, p. 23.
  47. Portal Iphan 2007.
  48. Uchôa 2007.
  49. Figueiredo 2007.


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